sábado, 1 de dezembro de 2012

As unhas e a qualidade do som violonístico (Parte I)



Escrito por: Miquéias Bandeira

 
Gostaria de abrir esse espaço, trazendo um assunto de grande importância na vida de um violonista. Grande parte do tempo de um violonista é gasto em cuidados com suas unhas. Isso se dá por que ele conhece muito bem a influencia da unha no resultado sonoro do violão. Sem falar com o imprevisto quando uma unha se quebra. É um “Deus nos acuda,” é um terror na vida de qualquer Violonista Clássico. Na minha época de estudante de conservatório certa vez observei uma cena inusitada, pelo menos para mim.



Meu professor de violão pegando uma bola de ping pong, também conhecida como bola de tênis de mesa, aquelas brancas feitas de um material plástico. Com uma tesoura ele cortou a bola em duas partes, logo em seguida cortou uma das partes num formato próximo da unha do polegar da mão direita. Depois de alguns ajustes no tamanho ele colou mais parecido com uma unha. Estava feito uma unha postiça. Com cola instantânea a base de cianocrialato ele fixou a sua criação por baixo da unha do polegar da mão direita.  Eu aprendi então a me salvar no caso em que a unha se parte, deixando o violonista muito estressado.


O cuidado que o violonista tem com suas unhas não é só para evitar a quebra da mesma. É de grande importância o formato das mesmas, fazendo parte do que podemos chamar de um ritual de manutenção das unhas, que proporcionam uma melhor obtenção do som do violão. Neste artigo trataremos da importância do formato e também de como tanto um iniciante como o violonista mais experiente poderá de posse dessas informações conseguir produzir mais qualidade em sua sonoridade no violão. No final do artigo o leitor encontrará uma série de dicas de como se deve cuidar das unhas.


A unha é um anexo cutâneo formado por células epiteliais queratinizadas, dispostas em placas de queratina dura. Situa-se n leito da epiderme ao qual esta firmemente aderida. Na evolução da espécie humana as mãos e os pés foram sofrendo alterações significativas, sendo que as unhas também sofreram tais transformações. A lâmina ungueal, que era uma estrutura córnea mais espessa tornou-se uma mais fina, facilitando os movimentos e a apreensão de pequenos objetos (LIMA, MENDONÇA, 2004 MONTENEGRO, 2007, REGO)



      A unha e o Violão

O uso ou o não uso da unha para se tocar as cordas do violão sempre foi assunto de reflexão e discussão entre os estudiosos do instrumento.
Segundo o compositor, violonista e professor   espanhol Emílio Pujol, “Aguado, Giuliani, Carulli e outros, usavam e recomendavam a unha, enquanto Sor, Carcassi, Messonier e outros também, a proibiam.”

Já para o compositor e violonista clássico espanhol Dionísio Aguado “Cada corda oferece variedade na qualidade do som, segundo o modo com que os dedos da mão direita a tocam, e esta variedade é maior se as unhas são utilizadas.” Enquanto isso Sor, também violonista clássico espanhol amigo do Aguado, afirma que as unhas “podem dar muito poucas nuances na qualidade do som.”

Apesar da importância da Escola do Sor, que consistia em tocar violão sem o uso da unha, em nossas considerações neste artigo só trataremos da técnica que utiliza unha no toque das cordas do violão.

Aguado escreve sobre a diferença do posicionamento da mão em relação ao instrumento com ou sem o uso de unhas, comentando que no toque com unhas os dedos se colocam em uma posição menos encurvada. Logo após ressalta que no toque com unhas, não se deve utilizá-las unicamente, pois o som não seria agradável: o toque
deve ser feito primeiramente com a gema do dedo, e com um deslize a unha fere a corda.

Segundo Aguado é preferível tocar com unhas para conseguir um som que não seja semelhante ao de nenhum outro instrumento. Para ele, o violão tem um caráter particular. Segundo suas próprias palavras “é doce, harmonioso, melancólico  […]. Oferece graças muito delicadas e seus sons são suscetíveis de tais modificações e combinações, […] se prestando muito bem para o canto e a expressão. Para produzir melhor estes efeitos, prefiro tocar com as unas porque, bem usadas, o som que resulta é  limpo, metálico e doce.

Sobre o tamanho e lixamento das unhas Aguado afirma que as séries de notas rápidas (“volatas”) são executadas com muita claridade e rapidez se as unhas são cortadas de modo que formem uma figura oval. Sobre o tamanho, as unhas “têm que sobressair um pouco da superfície da gema, pois sendo muito grandes se retarda a agilidade, [...] e também há o inconveniente de oferecer menos segurança no toque.”

Continua...


Um comentário:

  1. Achei muito interessante a postagem. Toco guitarra há 15 anos e estou iniciando minha jornada em prol de aprender algumas peças clássicas (sem grandes pretensões). E justamente esta questão sobre usar ou não as unhas está me incomodando. Estou tentando deixá-las crescer, porém elas são finas e quebram facilmente.

    Apesar da minha pouca experiência, imagino que as unhas sejam fundamentais não apenas para a sonoridade, mas em grande parte para executar as técnicas de trêmolo, que já venho treinando mesmo antes de ter as unhas no formato e tamanho certos. E sem as unhas a técnica de trêmolo pra mim se torna um esforço extremamente cansativo e ineficiente.

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