Por: Carlos Eduardo Amaral
Conversar com um intérprete de música clássica geralmente implica falar de um projeto novo – CD, DVD, turnê, participação em festival etc. – ou de uma data redonda, recapitulando seus principais feitos artísticos, neste caso. Em 2012, Fabio Zanon completou 30 anos de carreira e lançou um álbum com peças contemporâneas, junto com o flautista Marcelo Barboza, porém decidimos entrevistá-lo não por essa razão. Também não por sua discografia ou sua atuação como professor na Royal Academy of Music, de Londres, cujo corpo docente inclui duas lendas do violão clássico mundial: John Williams (homônimo do compositor de Hollywood) e Julian Bream.
Fonte: http://www.revistacontinente.com.br

Tratamos de assuntos fora de pauta na grande mídia, mas de todo modo pertinentes, a começar pelo vasto (e desconhecido) repertório violonístico brasileiro. E, ao adentrarmos outros tópicos, como o apoliticismo da maioria dos músicos, as dificuldades de apoio para o aperfeiçoamento interpretativo e a necessidade de atuação em outras frentes (como produção e agenciamento), Zanon mostrou-se cada vez mais contundente, colocando abaixo lugares-comuns e questionando o status quo de diferentes setores musicais e culturais.
CONTINENTE: Após o final do programa Violão com Fábio Zanon (veiculado na Rádio Cultura FM de 2006 a 2009), você ainda se dedica à pesquisa do repertório nacional para o instrumento?
FABIO ZANON: Agora estou mais preocupado em tocar o que pesquisei. Tenho incluído em meu repertório várias obras que não conhecia antes do programa. Fico contente em ver que a série serviu como inspiração para outras pessoas pesquisarem o violão brasileiro em seus trabalhos de mestrado e doutorado.
CONTINENTE: Dado o repertório com o qual você teve contato nessas pesquisas, quem, dentre os compositores e intérpretes brasileiros, ofereceu contribuições universais para a técnica e a escrita composicional violonística?
FABIO ZANON É uma pergunta de muitas faces. Se pensarmos no mexicano Manuel Ponce, tirando sua posição de dentro da cultura musical de seu país, sua contribuição universal é ínfima. Mas, dentro do repertório do violão, ele é obrigatório. Acho que, indiscutivelmente, Villa-Lobos é um autor universal, com ou sem obra de violão. No repertório para o instrumento, eu agregaria Francisco Mignone e Marlos Nobre. Dos mais jovens, acho que Alexandre de Faria, Arthur Kampela e Marcus Siqueira deram saltos excepcionais na maneira de se escrever música de concerto para violão. Entretanto, fora do país, existe um interesse muito grande pela música que prolonga a tradição nacionalista. Por isso, Sérgio Assad é, com razão, o brasileiro mais tocado fora do Brasil, depois de Villa-Lobos. Sérgio é um fenômeno, além de compor bem, é integrante do duo que estabelece o parâmetro internacional. E vejo uma tendência forte em se incluir o violão solo de MPB em programas de concerto. A toda hora vejo concertistas fora do Brasil tocando Paulo Bellinati, Marco Pereira, e acho que isso tende a aumentar.
CONTINENTE: Após várias gerações de bons intérpretes nacionais, quais os violonistas que estão firmando (ou poderão firmar) o nome do país nas salas de concertos mundiais?
FABIO ZANON: É difícil fazer um prognóstico. Depende muito de quanto o jovem alimenta seu talento, a maneira como conduz seus estudos, sua carreira. Acho que é a hora dos duos. O Brazil Guitar Duo e o Duo Siqueira-Lima são, para mim, os melhores duos do mundo depois do Duo Assad. Tem um rapaz da Bahia morando na Suíça, João Carlos Victor, que provavelmente é o mais talentoso da geração sub-30; boto muita fé nele. Por outro lado, o cenário de concerto tem mudado muito. Hoje, se a gente procurar, vai ver que o Yamandu Costa toca como solista de orquestra mais até que a maioria dos concertistas clássicos. Daí, nesse setor, o Brasil é uma grande força.
Leia a matéria na íntegra na edição 143 da Revista Continente.
O Fábio zanon é um violonista de alto nível. Tive o prazer de assisti-lo numa palestras alguns anos atrás. Parabéns pelo Blog.
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