domingo, 2 de dezembro de 2012

Presidente da Suprema Corte toca violão?


Escrito por: Miquéias Bandeira



No último dia 22, tomou posse às 15h como presidente da suprema Corte o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa Gomes. Primeiro e único negro a ocupar o cargo de ministro do STF.O que me chamou atenção quando ouvi uma crônica do Ednaldo Santos(radialista da rádio Jornal – Recife) foi o fato do Ministro tocar violino e piano desde os 16 anos de idade. Logo pensei: ele deveria tocar também violão clássico. Um brasileiro com um currículo tão recheado: Oficial de Chancelaria, advogado do Serpro, Procurador da República, Doutor em Direito, fluente em francês, inglês e espanhol bem que poderia dedilhar algo erudito no violão.

Bem não será neste artigo que o caríssimo leitor irá descobrir se o ilustre Ministro toca ou não violão. Mas, pelo menos irá apreciar uma poesia que tem tudo a ver com o violão e o Advogado. Trata-se de um episódio na Paraíba onde alguns músicos que faziam serenata forma presos. Embora liberados no dia seguinte, o violão foi detido. Ao tomar conhecimento do ocorrido o famoso poeta e  senador Ronaldo Cunha Lima enviou uma petição ao Juiz da Comarca, em versos, solicitando a liberação do instrumento musical. 

Senhor Juiz.
Roberto Pessoa de Sousa
 
O instrumento do "crime"que se arrola
Nesse processo de contravenção
Não é faca, revolver ou pistola,
Simplesmente, Doutor, é um violão.
 
Um violão, doutor, que em verdade
Não feriu nem matou um cidadão
Feriu, sim, mas a sensibilidade
De quem o ouviu vibrar na solidão.
 
O violão é sempre uma ternura,
Instrumento de amor e de saudade
O crime a ele nunca se mistura
Entre ambos inexiste afinidade.
 
O violão é próprio dos cantores
Dos menestréis de alma enternecida
Que cantam mágoas que povoam  a vida
E sufocam as suas próprias dores.
 
O violão é música e é canção
É sentimento, é vida, é alegria
É pureza e é néctar que extasia
É adorno espiritual do coração.
 
Seu viver, como o nosso, é transitório.
Mas seu destino, não, se perpetua.
Ele nasceu para cantar na rua
E não para ser arquivo de Cartório.
 
Ele, Doutor, que suave lenitivo
Para a alma da noite em solidão,
Não se adapta, jamais, em um arquivo
Sem gemer sua prima e seu bordão
 
Mande entregá-lo, pelo amor da noite
Que se sente vazia em suas horas,
Para que volte a sentir o terno acoite
De suas cordas finas e sonoras.
 
Liberte o violão, Doutor Juiz, 
Em nome da Justiça e do Direito.
É crime, porventura, o infeliz
Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?
 
Será crime, afinal, será pecado,
Será delito de tão vis horrores,
Perambular na rua um desgraçado
Derramando nas praças suas dores?
 
Mande, pois, libertá-lo da agonia
(a consciência assim nos insinua)
Não sufoque o cantar que vem da rua,
Que vem da noite para saudar o dia.
 
É o apelo que aqui lhe dirigimos,
Na certeza do seu acolhimento
Juntada desta aos autos nós pedimos
E pedimos, enfim, deferimento. 
O juiz Roberto Pessoa de Sousa, por sua vez, despachou utilizando a mesma linguagem do poeta Ronaldo Cunha Lima: o verso popular.

Recebo a petição escrita em verso
E, despachando-a sem autuação, 
Verbero o ato vil, rude e perverso, 
Que prende, no Cartório, um violão.
 
Emudecer a prima e o bordão,
Nos confins de um arquivo, em sombra imerso,
É desumana e vil destruição
De tudo que há de belo no universo.
 
Que seja Sol, ainda que a desoras,
E volte á rua, em vida transviada, 
Num esbanjar de lágrimas sonoras. 
 
Se grato for, acaso ao que lhe fiz,
Noite de luz, plena madrugada, 
Venha tocar á porta do Juiz.

5 comentários:

  1. Parabéns pelo Blog, amo violão, mas não conhecia esses versos, interessante!

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  2. ...Parabéns pela postagem professor, eu também não sabia que ele tocava!!
    www.pratiqueja.com

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  3. Maestro, as coisas estão aí para serem descobertas!! Grande abraço!

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  4. parabéns prof, pelo blog e pelo excelente educador que vc é grande abraço.

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  5. O blog está sendo produzido com muito carinho, para que seja sempre útil a todos vocês. Qualquer dúvida, é só perguntar.

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