Escrito por: Miquéias Bandeira

No último dia 22, tomou posse às 15h como presidente da suprema Corte o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa Gomes. Primeiro e único negro a ocupar o cargo de ministro do STF.O que me chamou atenção quando ouvi uma crônica do Ednaldo Santos(radialista da rádio Jornal – Recife) foi o fato do Ministro tocar violino e piano desde os 16 anos de idade. Logo pensei: ele deveria tocar também violão clássico. Um brasileiro com um currículo tão recheado: Oficial de Chancelaria, advogado do Serpro, Procurador da República, Doutor em Direito, fluente em francês, inglês e espanhol bem que poderia dedilhar algo erudito no violão.
Bem não será neste artigo que o caríssimo leitor irá descobrir se o ilustre Ministro toca ou não violão. Mas, pelo menos irá apreciar uma poesia que tem tudo a ver com o violão e o Advogado. Trata-se de um episódio na Paraíba onde alguns músicos que faziam serenata forma presos. Embora liberados no dia seguinte, o violão foi detido. Ao tomar conhecimento do ocorrido o famoso poeta e senador Ronaldo Cunha Lima enviou uma petição ao Juiz da Comarca, em versos, solicitando a liberação do instrumento musical.
Senhor
Juiz.
Roberto Pessoa de Sousa O instrumento do "crime"que se arrola Nesse processo de contravenção Não é faca, revolver ou pistola, Simplesmente, Doutor, é um violão. Um violão, doutor, que em verdade Não feriu nem matou um cidadão Feriu, sim, mas a sensibilidade De quem o ouviu vibrar na solidão. O violão é sempre uma ternura, Instrumento de amor e de saudade O crime a ele nunca se mistura Entre ambos inexiste afinidade. O violão é próprio dos cantores Dos menestréis de alma enternecida Que cantam mágoas que povoam a vida E sufocam as suas próprias dores. O violão é música e é canção É sentimento, é vida, é alegria É pureza e é néctar que extasia É adorno espiritual do coração. Seu viver, como o nosso, é transitório. Mas seu destino, não, se perpetua. Ele nasceu para cantar na rua E não para ser arquivo de Cartório. Ele, Doutor, que suave lenitivo Para a alma da noite em solidão, Não se adapta, jamais, em um arquivo Sem gemer sua prima e seu bordão Mande entregá-lo, pelo amor da noite Que se sente vazia em suas horas, Para que volte a sentir o terno acoite De suas cordas finas e sonoras. Liberte o violão, Doutor Juiz, Em nome da Justiça e do Direito. É crime, porventura, o infeliz Cantar as mágoas que lhe enchem o peito? Será crime, afinal, será pecado, Será delito de tão vis horrores, Perambular na rua um desgraçado Derramando nas praças suas dores? Mande, pois, libertá-lo da agonia (a consciência assim nos insinua) Não sufoque o cantar que vem da rua, Que vem da noite para saudar o dia. É o apelo que aqui lhe dirigimos, Na certeza do seu acolhimento Juntada desta aos autos nós pedimos E pedimos, enfim, deferimento. |
O juiz
Roberto Pessoa de Sousa, por sua vez, despachou utilizando a mesma linguagem
do poeta Ronaldo Cunha Lima: o verso popular.
Recebo a petição escrita em verso E, despachando-a sem autuação, Verbero o ato vil, rude e perverso, Que prende, no Cartório, um violão. Emudecer a prima e o bordão, Nos confins de um arquivo, em sombra imerso, É desumana e vil destruição De tudo que há de belo no universo. Que seja Sol, ainda que a desoras, E volte á rua, em vida transviada, Num esbanjar de lágrimas sonoras. Se grato for, acaso ao que lhe fiz, Noite de luz, plena madrugada, Venha tocar á porta do Juiz. |
Parabéns pelo Blog, amo violão, mas não conhecia esses versos, interessante!
ResponderExcluir...Parabéns pela postagem professor, eu também não sabia que ele tocava!!
ResponderExcluirwww.pratiqueja.com
Maestro, as coisas estão aí para serem descobertas!! Grande abraço!
ResponderExcluirparabéns prof, pelo blog e pelo excelente educador que vc é grande abraço.
ResponderExcluirO blog está sendo produzido com muito carinho, para que seja sempre útil a todos vocês. Qualquer dúvida, é só perguntar.
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